sexta-feira, 8 de maio de 2009

Outros Mundos... Apadrinhamento - Artigo maGASine

Ir à escola, aprender a ler e a escrever, ter todas as refeições do dia, ricas em todos os nutrientes necessários a um bom crescimento, chegar a casa e poder brincar ou descansar, sob a protecção dos pais, no conforto de um lar… eis algumas das coisas que a maioria das crianças do nosso país têm como garantidas. O que estas crianças nem imaginam é que, à distância de uma viagem de avião, milhares de outras crianças lutam para poderem trabalhar para sustentarem os seus irmãos mais novos que como elas, não têm pais, nem estruturas, nem recursos para
terem uma vida de criança.
Foi nestas condições que encontrámos muitas das crianças da Vila de Macia, em Moçambique. Surgiu assim o Projecto Crescer, o primeiro projecto de apadrinhamento à distância do G.A.S.Porto, lado-a-lado com o projecto local pré-existente - Vida Positiva, da Igreja Anglicana, gerido pelo Padre Campira. O objectivo é unir um cidadão português com uma destas crianças para, por um lado, dar à criança o suporte material para que possa estudar em condições aceitáveis e, por outro, dar-lhe um novo amigo, alguém que a incentiva, oferece estímulos positivos, conforta-a, preocupa-se…
Mas quem dá, nunca fica sem receber, e os padrinhos têm sempre de volta o carinho do seu afilhado através das cartas, fotografias, desenhos, partilhando um pouco da sua vida.
Queremos não só estar onde é mais preciso, mas ser as mãos e os olhos, daqueles que têm também essa vontade, mas só a podem concretizar com o coração.
Nas palavras de uma das nossas primeiras madrinhas, assumir este papel é:
“Um gesto tão simples que pode marcar a diferença e traçar o futuro de uma criança para sempre!”
A Inês quis estar no projecto desde o início e justifica-o dizendo:
”Enquanto “cidadã deste mundo”, sinto que tenho o dever de contribuir, de ser útil ao próximo. Depois de passar por terras de África, a noção desse dever tornou-se maior ao tomar consciência da realidade destas crianças, para quem a infância se revela dura. As crianças que riem como se tudo tivessem, mas que quase nada têm…prendem o nosso olhar e conquistam o nosso coração no primeiro minuto.
Enquanto Professora, acredito que a educação é um direito humano que todos devem usufruir, independentemente do seu contexto financeiro. Daí a minha decisão de apadrinhar uma criança em Macia, de poder contribuir para o seu futuro mais risonho.
A anualidade custa…? Custa…mas passa por estabelecer prioridades… e no final do ano são menos um par de calças e duas camisolas que eu compro para mim, mas que fará toda a diferença na educação e no futuro do meu
Afilhado!”
Apesar de todo este entusiasmo, os nossos pés estão bem assentes na realidade e a forma como tudo é colocado em prática reflecte sempre essa consciência. Por isso pensamos e repensamos cada questão até ao pormenor, desde a preparação da equipa responsável pelo projecto em Moçambique, passando pelos critérios de escolha das crianças, escolha essa que tem de ser aprovada pelo líder local, Igreja Anglicana e o próprio Estado. Aos padrinhos é pedido que assumam um compromisso escrito. O G.A.S.Porto responsabiliza-se pela concretização do projecto.
Como nos diz o nosso caro Padre Campira, “é preciso que haja uma boa coordenação entre o GASPorto e a Igreja Anglicana”.
Ainda, nas suas palavras “o projecto apadrinhamento melhorou muito a saúde da criança em nutrição, higiene pessoal e também contribuiu muito no rendimento escolar.” Ele considera o projecto muito importante pois “deste modo estamos combatendo a pobreza absoluta que é o desafio do milénio”. A selecção das crianças e a forma como este apoio é posto em prática passa por “obedecer às necessidades de cada uma, porque a maioria das crianças (da Vila) são chefes de família (…) apresentam-se sujas, mal nutridas e com aproveitamento escolar muito baixo”. A Professora Arlete, uma das responsáveis pelo projecto assegura que têm estado “a trabalhar em matéria de educação, saúde e alimentação, estando a cuidar 10 crianças órfãs e vulneráveis, as quais têm demonstrado muito interesse em frequência escolar, daí que todas tiveram notas positivas e passaram de classe, tendo-se verificado também a melhoria do estado de saúde das crianças”.
Pedimos ao Padre Campira que enviasse um conselho a todos os padrinhos, “Acompanhe o seu afilhado, apoiando nas áreas acima referenciadas e mantendo sempre troca de informação com ele”.
Este é o primeiro ano do Projecto, o ano piloto, mas com a vontade e participação de todos, o nosso caminho tem sido e só pode ser cada vez melhor.

Ana Luísa Castro_Estudante da FMUP

Artigo maGASine, edição nº 4

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